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Uma homenagem ao Cutrim

Do Portal Az, por Roberto Veloso

Essa homenagem poderia ter sido prestada em muitos momentos da vida do Cutrim. Em várias ocasiões de inúmeras vitórias alcançadas por ele ao longo de sua exitosa carreira. Presto-a, contudo, em uma ocasião de dor, após a perda precoce de seu filho Henrique, o Cutrim Filho, como ficou conhecido em sua campanha para vereador de São Luís, vítima de insuficiência respiratória.

Conheci Cutrim em 1992. Ele estava vindo de Roraima, onde presidiu, na qualidade de Delegado da Polícia Federal, o inquérito sobre o massacre de 16 índios ianomâmis em Haximu (Venezuela). Ele havia indiciado pelo crime de genocídio 23 garimpeiros brasileiros que teriam participação direta ou indireta na matança dos índios. Dois foram presos em razão da investigação.

A vida do Cutrim sempre foi de combate ao crime. Em 1992, quando eu atuava como Promotor de Justiça em Imperatriz, ele era assessor do então Diretor Geral do DETRAN, Coronel Guilherme Baptista Ventura, e o DETRAN, com o auxílio do Tribunal de Justiça e da Procuradoria Geral de Justiça, estava em uma investigação no famoso caso dos “fiéis depositários”.

Fizemos um bom trabalho e plantamos o fruto de uma amizade duradoura entre ele, Jamil Gedeon, então Promotor de Justiça encarregado pela Procuradoria de Justiça para investigar o caso, Guilherme Ventura e eu.

Naquela oportunidade pude conhecer os filhos de Cutrim, Gustavo, o mais velho, e os dois gêmeos, Augusto e Henrique. Ainda eram crianças. Em razão da morte prematura da mãe, foram criados pelo pai sozinho, com a ajuda de uma de suas irmãs mais novas.

Como resultado do trabalho desenvolvido no caso dos fiéis depositários, Guilherme Ventura foi nomeado Secretário de Segurança Pública e Cutrim o acompanhou na assessoria. Um fato, porém, obrigaria novamente um contato profissional entre nós: o assassinato do então Prefeito de Imperatriz, Renato Moreira, ocorrido em outubro de 1993. O crime foi esclarecido e os acusados de participação identificados e levados a julgamento.

Ao término do governo de Ribamar Fiquene, houve a nomeação de outro Secretário de Segurança, e Raimundo Cutrim, requisitado da Polícia Federal, foi trabalhar no Ministério Público Estadual, na assessoria de Jamil Gedeon, então Procurador Geral, na qual eu fui o assessor chefe.

Em maio de 1997, o Delegado de Polícia Civil Stênio Mendonça foi assassinado barbaramente na praça da Litorânea, em São Luís. Os acusados da morte foram presos e posteriormente mortos em poder da Polícia Civil. Esse fato motivou a queda do Secretário de Segurança e a nomeação de Raimundo Cutrim para o cargo.

São inegáveis as conquistas de Raimundo Cutrim frente à Secretaria de Segurança, a começar pela qualificação do pessoal. Ele realizou vários concursos públicos para delegados e agentes de polícia. A primeira turma foi formada na Academia de Polícia Federal em Brasília. Ele Inaugurou e fez funcionar a Academia da Polícia Civil no Maranhão. Proveu todas as delegacias de delegado de carreira, o que se tornou um acontecimento histórico, pois, até então inúmeras eram ocupadas por policiais militares.

Modernizou a Secretaria de Segurança com a aquisição de viaturas e até de helicóptero. Combateu o crime organizado e pacificou o estado. Foi um dos secretários de segurança mais longevos no cargo. A população reconheceu o seu trabalho e por duas vezes o elegeu deputado estadual pelo Maranhão, estando, atualmente, no exercício do segundo mandato.

Mas, uma vida de lutas e vitórias lhe trouxe um desalento, a morte precoce de um de seus caçulas, o Henrique. Vinícius de Moraes disse certa vez que ele próprio era a imponderável árvore dentro da noite imóvel. Essa imponderabilidade que faz o mundo correr às avessas e obriga um pai a perder um filho.

Cutrim sempre foi um pai dedicado e atencioso. Faz tudo o que pode para os filhos. Por isso, presto-lhe essa homenagem, porque sei, no seu íntimo, que ele desejaria perder tudo que lhe fosse material, inclusive os títulos, para ter o seu querido Henrique de volta.

Cutrim, aceite meus sentimentos nesse momento de dor.

Roberto Veloso é juiz federal e professor doutor da UFMA

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