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Vergonha: Ronaldo tem. Dilma, não

Por Abdon Marinho

O ex-jogador de futebol Ronaldo Nazário, conhecido no mundo da bola como “fenômeno”, membro do comitê local da copa FIFA 2014, declarou a imprensa que se sente envergonhado com os atrasos nas obras do mundial.

Foi o que bastou para governistas e todos aqueles que vivem à sombra do poder petista viesse prestar serviço e esculhambar o ex-jogador. Setores da imprensa, aqueles que recebem para cumprir o papel de aduladores abriram espaços para todos os que quiseram tirar sua lasca de toucinho do seu lombo. Alguns fizeram questão de rememorar suas falhas como cidadão, com especial destaque a “amarelada” no mundial da França.

A própria presidente da República – e por conta disso, os puxa-sacos se encorajaram – veio a público contestar o ex-jogador, dizer que tudo está indo muito bem, que temos motivo para nos orgulhar e outras baboseiras de quem está dissociada da realidade ou dos que não ficam constrangidos com nada.

Ronaldo, desde que o Brasil cogitou a candidatura, foi um dos seus primeiros entusiastas, estando presente na solenidade que homologou a escolha e aceitando participar do Comitê Organizador Local. No seu papel de defensor do projeto, foi até o autor de uma das frases mais infelizes já proferidas, de que “copa se faz com estádio e não com hospitais”. Até hoje é cobrado por sua colocação intempestiva, embora muitos, ontem, e principalmente hoje, a explorem da forma mais cruel fazendo crer que ele é o mais insensível dos seres, absolutamente indiferente ao sofrimento dos milhares de brasileiros e não apenas o autor de uma frase, como disse, infeliz.

Se errou outrora, assim como tantos, foi por acreditar que a Copa, conforme alardeado a prometido pelos governantes traria um rico legado para o nosso povo, com diversas obras públicas que melhorariam a vida de todos e que os investimentos em estádios seriam bancados pela iniciativa privada. Não foi isso que nos prometeram?

E que foi que aconteceu?

Aconteceu tudo o oposto do prometido. O tal legado não ocorreu, pouco ou quase nada foi feito para a população; o povo continuam padecendo com as necessidades: passando horas e horas no infecto transporte público ou morrendo nas portas de hospitais; sem segurança, sem educação, sem suas terem suas necessidades básicas atendidas.
No outro quadrante o Estado, direta ou indiretamente investiu foi em estádios, diferente do que prometeram.

Acredito que por conta disso, embora poucos reconheçam, haja esse clima de insatisfação latente. Tão visível que o Brasil vai realizar o mundial em “estado de sítio”, não oficializado, com as tropas nas ruas.

Não se trata aqui nem do montante de recursos investidos. Aqui se discute a inversão das prioridades. Enquanto se fazem estádios até onde o esporte não comporta o padrão empregado, se deixa de investir em obras importantíssimas como a transposição do Rio São Francisco, apenas para citar uma.

Mais, o governo abriu para FIFA tudo que pediram, até uma lei especial foi criada para facilitar as obras da copa e ajudar a organização (privada) a ampliar seus lucros. Apesar disso, devemos agradecer a entidade por ter impedido que o governo megalomaníaco do Brasil não levasse a cabo a construção de dezessete arenas esportivas como queriam. A FIFA só queria oito, aceitou doze, conforme divulga a mídia. O governo brasileiro queria era mais. Queria era se esbaldar na gastança e explorar politicamente o evento em favor de seus candidatos.

A crítica de Ronaldo Nazário é tímida, envergonhada, não vai além do atraso nas obras, embora muito se pudesse dizer sobre tudo que não foi cumprido. A critica nada tem absurda, apenas constata o que todos estamos cansados de saber, que até as obras dos estádios, até elas estão com atraso além do razoável, temos arenas que ainda não possuem os vasos sanitários, outras não estão com todas as cadeiras no lugar, foram entregues sem estarem prontas. Isso a poucos dias do evento.

O Brasil é o pais, até aqui, que mais tempo teve para organizar uma copa e não estamos no ponto, acredita-se que até o último minuto estarão arrumando uma coisa aqui ou ali, isso se trabalharem dia e noite até a abertura do evento. Sem contar o grande número de vítimas fatais em construção de estádios.

O mundo inteiro está vendo o que acontece. Diante disso, o Comitê Olímpico Internacional – COI, começa a mostrar sinais de preocupação e impaciência com as obras para Olimpíada Rio 2016. Nos bastidores, sabe-se, pediram a Londres que fique de sobreaviso, para o caso de não conseguirmos realizar os jogos.

Como não se envergonhar disso? O erro de Ronaldo não é a crítica ao atraso, erro maior foi acreditar e confiar num governo que não sabe nada do que diz, que não possui competência para organizar um evento de grande porte.

Como digo desde que formos escolhidos, nada disso me surpreende. O Brasil passa um vexame monumental que só será minorado se conseguirmos conquistar a copa.

A vergonha é o sentimento normal neste momento. É como se fossemos receber uma visita em nossa casa e ela estivesse suja, desarrumada, etc. As pessoas sentem vergonha disso, não só os que recebem mas o que visitam. Esse sentimento de vergonha não é só de Ronaldo Nazário, é de todos os brasileiros de bem, do povo trabalhador que ama este pais. O fato da presidente achar que tudo vai tão bem só revela que ela não é, sequer, uma boa dona de casa.

Em matéria de copa, senhora presidente, a casa está imprópria para receber, não por que somos pobres, pelo contrário, mas por que a casa está suja. Qualquer dona de casa que se preze sentiria vergonha.

Abdon Marinho é advogado eleitoral.

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