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Um debate ideológico tardio

Por Abdon Marinho

Advogado Abdon Marinho.
Advogado Abdon Marinho.

No Maranhão, não é de hoje, as coisas acontecem com relativo atraso. Basta dizer que quando o Brasil tornou-se independente de Portugal em 7 de setembro de 1822, o estado (então província), demorou quase um ano para aderir, só o fazendo em 28 de julho do ano seguinte, dando aos maranhenses mais um feriado, que a grande maioria não sabe a razão, nem o seu significado.

É assim, com esse sentimento de retardo, que o Maranhão se prepara para uma eleição onde um dos seus temas será um debate do século passado, conceitos de capitalismo, comunismo, direita, esquerda, essas coisas que ninguém mais discute em parte alguma do mundo.

Já sabia que esse tipo de debate iria ocorrer. Ainda nos fins de 2012 e começo de 2013, escrevi sobre a inconveniência de se ter um candidato com chances de ganhar a eleição filiado a um partido que em pleno século 21 se mantém preso a postulados de difícil compreensão por grande parte da sociedade maranhense. Se tivessem me ouvido teriam migrado para um partido que excluísse da pauta eleitoral o debate teremos nessa eleição e estaríamos discutindo os assuntos que verdadeiramente interessam ao nosso povo, qual seja, o que cada candidato, o que representa a continuação do atual governo e o que representa a oposição têm como proposta para o Maranhão, o que pensam e que farão em benefício do povo.

Tomara que o debate evolua para o que interessa ao invés de girar em torno do nada ideológico do momento. Quando digo “nada ideológico” não tenho a intenção de ofender ninguém é apenas no sentido de mostrar que cada um sabe da impossibilidade material que se tem de implantar um modelo comunista no Brasil e muito menos no Maranhão. Diante disso, ao menos, ao meu sentir, está se discutindo sobre o “nada ideológico”, sobre algo sem chances de acontecer. Apesar disso, entretanto, acho legitimo que se questione os candidatos sobre as posições de seus respectivos partidos sobre todos os temas. Os situacionistas têm questionado os comunistas sobre suas posições quando a Coreia do Norte, Cuba, FARC’s, etc, sobre passar o réveillon em Copacabana ou vestir uma camiseta da grife lacoste. Os oposicionistas têm que está preparados para o ônus de estarem num partido cuja definição menos ofensiva é chamá-lo de exótico. Desde que me entendo por gente, que o partido tem posições exóticas sobre o mundo, passou uma vida defendendo a ditadura albanesa, quando ela caiu, não deu um pio. Defende até hoje a ditadura dos irmãos Castro em Cuba e o modelo norte-coreano com seus expurgos, seus campos de trabalhos forçados, seus morticínios de adversários, defende as violações das liberdades individuais em todos governos ditos populares. Na verdade populares de fachada como Equador, Venezuela e Bolívia.

Os governistas aproveitam-se disso, trazem o debate eleitoral para esse campo da ideologia partidária, como estratégia para enfraquecer o candidato oposicionista. Desde o sempre o chamam de “o chefão comunista” ou “chefe comunista”, o questiona sobre ter vestido nesta ou noutra ocasião uma camisa de grife, no episódio que li tratava-se de uma lacoste (depois disseram que era falsa), sobre o lugar onde passou o réveillon e com quem, já disseram com todas as letras que o seu partido teve participação na barbárie e na matança de pedrinhas, devido a ligação do seu partido com as Farc’s através do chamados foro de São Paulo, já se falou do apoio do partido à causa do terrorismo internacional, seu antiamericanismo, já li sobre uma cobrança de posição quanto ao último expurgo de Pyongyang.

Os questionamentos são feitos por pessoas que possuem ligações com o grupo situacionista, mas também por pessoas que até, onde sei, não possuem vinculo partidário ou ideológico nenhum, a exemplo do Dr. Pedro Leonel que escreveu sobre o possível vinculo do partido com o grupo guerrilheiro colombiano. O seu artigo, embora ele tenha deixado claro que expunha suas posições no serenar dos acontecimentos para evitar outro que não o debate de ideias, foi muito bem explorado politicamente por quem esse debate interessa.

Se é legitimo? Lógico que é. O candidato oposicionista sabia que iria responder pelas exóticas posições adotadas por seu partido, pelas teses que Marx e Engels escreveram ou que pensaram em escrever, pelo que a URSS e Albânia fizeram no passado e pelo Cuba, Coreia do Norte e até a China, fazem no presente.

Tanto o futuro candidato quanto seus apoiadores sabiam disso, pois sabem que todas as armas que puderem usar para se manterem no poder serão usadas, ninguém entrega o poder de mão beijada. A parte do questionamento ideológico é apenas um aperitivo para o que vem por aí. Talvez essa seja a parte até mais mais fácil, o jogo duro mesmo, será jogado mais lá para frente, na hora que vaca parida desconhecer bezerro. Como vemos, o debate ideológico é apenas insinuado, alguém diz uma coisa aqui, outro joga um pertado ali, um terceiro uma pedra acolá, um artigo, um post nas redes sociais, uma notinha de rodapé nas colunas dos jornais, faz parte do estratégia

“cerca Lourenço”, querem suscitar a dúvida na cabeça dos eleitores. Ainda como roteiro de campanha irão atrás de tudo que puderem contra o candidato, seus aliados e apoiadores, tanto no campo pessoal, profissional ou ideológico. É um ataque quase que incessante, só falta dizer que foi o indigitado que salgou a Santa Ceia.

A parte que os adversários diretos não puderem fazer, passarão para os que, por algumas moedas, não vêem nada demais em vender a mãe. E a entregar. Antes só vendiam. Hoje vendem, entregam e ainda dão uma irmã de brinde.

O debate ideológico a essa altura da história tem apenas o efeito fustigador, se rende votos no varejo, não modifica muita coisa no atacado. Ainda que digam a não mais poder sobre os malefícios do comunismo, que os comunas comem criancinhas e todas essas tolices que costumam dizer. Nos dias de hoje poucos serão os que acreditarão que o projeto dos nossos comunistas seja esse, sequer haveriam condições mínimas para implantação de um modelo parecido com o comunismo no Brasil e muito menos no Maranhão, como dissemos acima. O debate neste sentido é meramente acadêmico e eleitoral.

Em todo caso, acadêmico ou não o partido sofrerá, durante toda a campanha que se avizinha, o constrangimento de ser cobrado em suas posições, e isso, diga-se de passagem, por sua própria culpa. Ora, o partido, se nunca fez uma autocrítica sobre a história, assim age por um sectarismo tolo e sem efeito algum. Agem porque durante a sua existência inteira a única expectativa era de ser oposição, no máximo pegar uma sinecura aqui e ali, como já fizeram no governo de Lula/Dilma e até mesmo no Maranhão no primeiro governo da atual governadora. Ainda não acordaram para a real possibilidade de virarem governo e de como terão que governar, caso isso ocorra. Por conta disso ainda não se deram conta da oportunidade que estão perdendo em não romper com os governos autoritários que apoiam e acham que dirigem verdadeiros paraísos na terra (embora nenhum dirigente partidário tenha mostrado interesse de ir residir em nenhum daqueles países). Passa da hora de um partido, com reais chances de conquistar um governo estadual, tomar uma posição clara com relação aos abusos cometidos pelos governos coreano, cubano, equatoriano, venezuelano, e os demais que parecem viver ainda no século passado, ter uma posição firme no se refere aos direitos humanos, a liberdade de expressão, etc. Posições que amenizem as críticas que já vem sofrendo e que sofrerão cada vez mais ao longo do ano. Uma coisa é você poder dizer e fazer o que quer na oposição, outra coisa é a responsabilidade de ser governo de um estado que tem um potencial de crescimento e que precisará de investimentos internos e externos.

Outro dia um amigo me questionou, diante do arcabouço ideológico que começou a tomar conta eleição, o que eu achava de um governo comunista no Maranhão, se seria nos moldes coreanos. Respondi-lhe com o humor que me é característico, disse-lhe: “– Não devemos nos preocupar, primeiro por que os nossos comunistas, quase nenhum sabem o que é comunismo, socialismo, etc. e segundo por que, até diante de um mapa-múndi bem poucos saberão identificar onde fica a Coreia do Norte, guarde suas preocupações para coisas úteis”. Assim encerrei o assunto.

Como de resto, como tudo que acontece no Maranhão, até um debate de cunho ideológico, que seria saudável noutros tempos, aqui nos remete a ideia do atraso e do oportunismo político eleitoral. Quem se veste de crítico defende até o “diabo” se isso lhe render um punhado de votos. Usam o debate de cunho ideológico para fugir da real discussão que se deveria travar sobre a realidade do Maranhão que ostenta indicadores tão piores quando as ditaduras que agora, e só agora, fingem combater. O debate que começam a travar não passa de mais um disfarce para mascarar essa realidade.

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