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Um ano da maior tragédia de terror numa escola brasileira

Por Milton Corrêa da Costa

Há um ano uma cena real e inimaginável, de pânico e terror, deixava o país incrédulo. É preciso, ‘pois, ainda refletir muito sobre a tragédia que chocou o Brasil na manhã naquele fatídico 07 de abril, antes as cenas de terror ocorridas no interior da escola municipal Tasso da Silveira, em Realengo, no Rio, onde estudantes, em pânico, foram barbaramente assassinados (12 morreram) ou feridos. Ressalte-se que um sargento da Polícia Militar, um herói como bem disse o governador Sérgio Cabral, evitou que o massacre fosse ainda maior ao abordar e ferir o insano atirador que ao que tudo indica prosseguiria sua perversa sanha assassina. Acabou como em quase todo desfecho semelhante- vide os casos ocorridos nos EUA, se suicidando. Foram momentos de terror que estudantes- alguns adquiriram sequela física e psicológica irreversíveis- professores e funcionários daquela escola talvez nunca mais se esqueçam em suas vidas. Difícil apagar da memória uma cena como aquela.

Assassinos insanos existem por tantos os cantos e em qualquer parte do mundo, mas os mentalmente sãos, sempre que possível, têm que dispor de mecanismos legais na tentativa de impedir a ação agressiva e mortal dos mentalmente insanos, de psicopatas (transtorno de personalidade) e de criminosos de todo gênero. Ainda que a segurança, em qualquer ramo da atividade humana, seja apenas relativa, onde as tragédias improváveis podem ocorrer, é preciso prever sempre a existência de mínimas condições de segurança, para que crianças e adolescentes se sintam relativamente seguros no interior de estabelecimentos de ensino, ainda que saibamos que o imprevisível episódio poderia ter ocorrido até extramuros.

As lamentáveis perdas humanas agora são fato consumado. Neste contexto de tragédia escolar, sem precedentes na historia do país, afloram alguns incômodos questionamentos. Que tipo de personalidade era portador Wellington Menezes de Oliveira? Tratava-se de um doente mental (psicótico) ou de um psicopata (transtorno de personalidade) cuja psicopatia foi gerada por ter sido vítima de bullying quando aluno da mesma escola? Que tipo de traumas e sequelas, após tamanha violência, poderão adquirir doravante os alunos que se tornaram testemunhas vivas do inusitado episódio de violência? E o desespero e a dor dos parentes das crianças mortas? Preciosas vidas podem ser reparadas com indenizações em dinheiro? É por demais necessários a união que as campanhas de desarmamento – uma das armas do crime foi comprada por RS260, 00- se tornem permanentes no país? Se não estivesse portando arma de fogo teria o assassino conseguido matar tantos jovens ao mesmo tempo? Até que ponto os vídeos e sites da Internet, sobre armas e jogos eletrônicos podem estimular jovens e psicopatas para a prática de crimes cruéis? Como fiscalizar a Internet nessa questão? E filmes tipo ‘Jogos Mortais ‘e ‘Jogos Vorazes’ até que ponto também banalizam a violência e o horror e influenciam jovens à prática agressiva? O que fazer para reforçar a segurança principalmente em escolas públicas no país? E o bullying (maus tratos, trotes, discriminação) em colégios e universidades? Vamos ou não tomar providências de prevenção e repressão?

A realidade é que, enquanto sociedade organizada, precisamos ter a noção exata que segurança contra o improvável também precisa ser prevista e que armas não podem ser compradas com tanta facilidade. Doentes mentais e psicopatas estão por aí anos ameaçar, inclusive em escolas onde se imagina que ali se está para adquirir conhecimentos e se formar cidadão, não para ser o palco inesperado de um fim bárbaro, prematuro e surpreendente, onde o assassino escolhia preferencialmente as meninas para atirar em órgãos vitais, como no tórax, no rosto e na cabeça.

O país permanece, passados doze meses, de luto pelas vítimas indefesas de um psicopata numa tragédia escolar sem precedentes. A tragédia tipicamente americana também se abateu sobre nós. Não podemos permanecer de braços cruzados como em estado letárgico esperando que fatos semelhantes ocorram. É como disse o jornalista Guilherme Fiuza: “É preciso investigar meticulosamente a caixa-preta do assassino Wellington Menezes de Oliveira tentando identificar e prevenir o aparecimento de outros”.

O presidente nacional da OAB, Ophir Cavalcante, também tocou na ferida na ocasião: “O país precisa urgentemente é de um Plano Nacional de Segurança Pública que combata efetivamente o comércio ilegal de armas e munições, não de plebiscitos”. Seria bom que o governo federal desse ouvidos ao ilustres advogado e jornalista, antes que fatos semelhantes ao massacre de Realengo voltem a ocorrer.

Milton Corrêa da Costa é coronel da reserva da PM do Rio de Janeiro

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