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O desespreparo que mata

Por Abdon Marinho

Advogado Abdon Marinho.
Advogado Abdon Marinho.

Ontem li um artigo de um jornalista onde o mesmo terce comentários sobre a falta de preparo e aptidão do alcaide para o cargo que ocupa. Se a acusação é injusta ou justa não me convém discutir neste post.

O certo é que a falta de aptidão para os cargos públicos tem causado sérios prejuízos ao país. Não faz muito tempo vi uma entrevista na revista veja, onde um renomado especialista em gestão e recrutamento de pessoal asseverava que era preferível que a administração pública ter gestores corruptos mas competentes que honestos incompetentes. Trata-se de uma dicotomia extrema. Acho que bom mesmo é termos gestores probos e competentes.

Entretanto não devemos ouvidar o mal que causa ao serviço público. São danos irreparáveis a educação, a saúde, a segurança pública.

Vejamos um exemplo grave. A rádio mirante acaba de anunciar o balanço da violência durante o mês de outubro. Só na região metropolitana foram 107 “mortes matadas” (as estatísticas da secretaria fatia as mortes em diversos seguimentos como se isso as diminuíssem, separam latrocínios, mortes em presídios, mortes a esclarecer, etc), no fim o resultado é o mesmo. O jornalista que divulgou o balanço e que vivência na área”, afirma que mais de noventa por cento destas “mortes matadas” são decorrentes de tráfico de drogas.

Apenas para efeitos de comparação, se pegarmos os balanços das mortes de qualquer das nações em guerra da atualidade, não temos os números de mortes da região metropolitana de São Luís.

Já mostrei os números da matança da última década na tegão metropolitana. Se comparamos, por exemplo o ano de 2002, temos uma constatação perturbadora, naquele ano inteiro o número da matança foi 194 ou seja em apenas um mês, este que acaba de de encerrar, o nosso outubro rosa, se matou mais que a metade daquele ano. Durma, se puder, com um barulho deste.

Ouso fazer uma reflexão, se até os jornalistas policiais, sabem da origem de tanta violência, o que impede o estado de traçar uma política de segurança que combata o problema na sua origem?

Seria injusto atribuir essa responsabilidade apenas ao atual secretário. Na verdade a crescente onda de violência é algo que vem se consolidando ao longo dos anos e que o estado tem se mostrado “despreparado” para combater. E, o mais grave, fingem que nada vem acontecendo a ponto do secretário dizer que a sensação de violência é artificial, noutras palavras, “coisas da nossa cabeça”, estamos todos malucos por nos sentirmos inseguros numa ilha onde só aconteceram 107 mortes matadas num único mês das quais sete apenas no no último dia do mês, para encerrar com chave de ouro. É essa negação tosca que me deixa indignado. Mas, como diz o secretário, nada de atípico está acontecendo.

Pois bem, falávamos de despreparo. Temos aqui uma claro exemplo de despreparo que mata, que deixa a população intranquila, que submete, principalmente, as pessoas mais humildes das periferias, ao império do medo e do terror.

Neste caso de flagrante despreparo temos uma agravante. Os “despreparados” que nos submete a esse clima de “artificial insegurança”, em que pese o sangue que escorre das páginas dos jornais serem bem reais, estão e estiveram nos cargos por vontade de outros “despreparados” que não tem a coragem de, diante da ineficiência que vêem mostrando os primeiros “despreparados”, retirá-los dos cargos. Vejam os senhores que situação estranha, reclamam do “despreparo” de alguém legitimamente eleito, e povo tem o direito de errar e acertar pois é o detentor do poder originário nos termos da constituição – lá está dito com todas as letras: Todo poder emana do povo… -, entretanto, nada dizem quando se trata de extirpar do poder alguém que ocupa os cargos por delegação, cargos de livre nomeação e exoneração. Não parece estranho?

Vejam os senhores, não conheço essas pessoas, sequer já estive no mesmo ambiente que elas, não podendo nada dizer sobre suas índoles e até sobre seu preparo, conheço os números. E sendo a matemática uma ciência exata, eles apontam para o fato de algo de muito errado vem acontecendo no nosso estado. E vem acontecendo sem que ninguém manifeste preocupação em resolver o problema.

Esta semana uma cosia me mostro que estamos vivendo num mundo de surrealismo extremo. Policiais e bombeiros militares fizeram uma passeata pedindo mais segurança. Vejam onde chegamos: até os agentes de segurança estão pedindo mais segurança. Ainda assim, segundo nosso secretário está tudo bem. Tudo na mais perfeita ordem.

Encerro com a seguinte reflexão: enquanto o resto do mundo teve um outubro rosa, nós os habitantes de Upaon-Açu, tivemos um outubro vermelho, vermelho de sangue. Rezemos, só nos resta isso, para que novembro seja menos sanguinário ou para que as autoridades consigam enxergar além do artificial e das atipicidades.
Um bom novembro a todos.

Abdon Marinho é advogado eleitoral.

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