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O crime e a prosa

Por Abdon Marinho

Advogado Abdon Marinho.
Advogado Abdon Marinho.

Na sua coluna semanal na capa d’o EMA (abro um parêntesis para dizer que nunca entendi a razão de se publicar uma coluna na capa do jornal. Será por vaidade? Medo de não ser lido? Algum dia ainda decifraremos esse mistério, talvez algum biógrafo não autorizado, se estes ainda existirem, nos faça esse obséquio) o senador Sarney encerra sua prosa com uma frase de efeito de grande significado: “Os boatos e querer tirar proveito político de uma situação provocada por infratores penais são mais perigosos do que um trágico e lamentável entrevero entre facções criminosas e marginais que destroem suas próprias vidas.” Não li a coluna, que deve está cheia de verdades e outras meias.

Chamou-me a atenção foi só o fecho, principalmente na forma sintetizada pelo jornalista Gilberto Léda: “Boatos são mais perigosos que guerra de facções, opina Sarney”.

Não tenho a menor dúvida em concorda com a assertiva, o poder da palavra é algo inimaginável. Tem o poder de construir e destruir com uma facilidade impressionante. O boato destrói casamentos, levam nações a guerras, fazem irmãos se tornarem rivais, etc. Ainda menino do interior aprendi o ditado: “língua não é osso mais quebra caroço”, lembram?

Uma outra coisa que aprendi há muito tempo foi que o combate ao crime tem que se dá de forma continuada e efetiva. Atacando a raiz do problema, sufocando os pequenos delitos, combatendo as grandes quadrilhas. O combate ao crime não admite concessões ou meias atitudes. Não admite que se negue a existência ou que escamotei a verdade.

O governo do Maranhão tem pecado, e muito no combate a criminalidade. Esse pecado começa quando se insulta a inteligência do cidadão afirmando que a sensação de insegurança é “artificial”, persiste ao fazer crer que nada de “atípico” ocorre neste quesito e arremata com a ausência de uma política planejada e efetiva de combate ao crime.

Essa é a realidade do Maranhão.

O cidadão não precisa ir muito longe para verificar que não é artificial nem típica a insegurança. Eu, por exemplo sei que coisa fica feia a cada dia apenas acompanhando um programa de rádio da mirante AM. Todos os dias a caminho do escritório ouço os competentes radialistas André Martins e Domingos Ribeiro fazerem o balanço diário dos crimes. E todo dia e sempre de forma crescente os números nunca são inferiores ao mês anterior.

Hoje, por coincidência, o Jornal Pequeno, em matéria assinada pelo excelente jornalista Osvaldo Viviani, comprova essa espiral de violência. Comprova-se que este ano já matou mais que no ano passado. Diz o jornalista: “Até as 5h47 de ontem (12), 2013 já contabilizava 721 crimes de morte nos municípios de São Luís, São José de Ribamar, Paço do Lumiar e Raposa, contra 716 assassinatos registrados em todo o ano passado.”

Tem sido assim, mês após mês, ano após ano. Esses números, para os quais a sociedade não é indiferente, faz os boatos ganhem vida. Ainda mais quando ao invés de termos políticas de combate ao crime temos secretário dizendo que eles não existem, que são abstrações, que são coisas da cabeça de avoados.

É verdade que os boatos ganham o mundo como as plumas de um travesseiro depois de aberto. Mas é igualmente verdade que para todos eles há um fundo de verdade que lhe dá sustentação. Embora eu não duvide de nada no Maranhão, se me disser que tem um boi de verdade voando sobre a praça João Lisboa, pensarei duas vezes antes de passar a notícia adiante. Se me disserem que mataram 20 em Pedrinhas, diante de tudo que se viu nos últimos tempos, só pensarei uma vez.

Todos nós, cidadãos sensatos, sabemos dos perigos dos boatos. Entretanto, o que vem dizimando a população todos os dias, não são boatos são criminosos de verdade, com armas de verdade.

Já que usou tantas frases feitas neste texto, encerro com mais uma, essa de minha autoria: “prosa não combate crime”.
É pobre mas não é boato.

Abdon Marinho é advogado eleitoral.

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