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Nem Londres nem Juba

Por Abdon Marinho

O Maranhão passa semana envolto em mais uma falsa polêmica. Uma picuinha tola em torno de uma matéria do jornal britânico Financial Times sobre o estado, dez meses após os comunistas chegarem ao poder em substituição ao grupo Sarney (chefiado pelo ex-presidente José Sarney), que mandava por estas terras havia 50 anos.

Segundo os que deixaram o poder, nas palavras do próprio neto do ex-presidente, deputado estadual Adriano Sarney, tratou-se de uma matéria para “inglês ver”, que não retrata os problemas enfrentados pelo estado e um exemplo claro de mal jornalismo, uma vez que deixou de ouvir as forças oposicionistas e suas críticas à forma como o estado vem sendo gerido.

Só faltou dizer que a matéria saiu mais rósea que o papel no qual o jornal é impresso.
Já, para os novos donatários do poder, a matéria foi encarada e festejada como um reconhecimento aos feitos comunistas frente ao governo do estado.

Nem uma coisa nem outra.

O Maranhão não tornou-se uma Inglaterra, nestes dez meses de mando comunista, mas tão pouco virou uma espécie de Sudão do Sul, como pregam aqueles que deixaram o poder.

São Luís, a nossa capital, está tão distante de Londres quanto parece está de Juba.

Há mudança? Sim, há mudança. A principal delas na forma como os novos governantes enxergam o papel do estado.

Conheço o governador Flávio Dino há trinta anos, desde o tempo de militância estudantil, das reuniões e congressos no Sítio Pirapora. Sei que há sinceridade nas suas palavras quando falar em querer um estado mais justo, com igualdade de chance para todos os maranhenses e que todos possam usufruir das riquezas; que tem boa intenção quando busca medidas para melhorar o ensino, elevar o IDH, diminuir a pobreza, etc.

Não são palavras, como cansamos de ouvir, ditas da boca para fora. Sem refletir nada além do interesse de se perpetuar no poder enganando o povo.

Entretanto, governar é, sobretudo, transformar palavras sinceras, boas intenções e ideias inovadoras, na realidade do cidadão.

Ainda que seja prematura a cobrança de solução de problemas que se arrastam por décadas, no quesito transformar boas ideias em realidade, o governo precisa se desdobrar mais, muito mais, sobretudo em áreas estratégicas, para mostrar que as mudanças prometidas são mesmo para valer.

Um exemplo claro – e que afeta a todos – é a questão da segurança pública.

Se houve alguma melhora, a população ainda não percebeu ou sentiu. Na verdade, sentimos que o estado está bem mais inseguro. A bandidagem age com desassombro por todo o Maranhão, são assassinatos, assaltos a bancos, loterias, postos de gasolina, postos dos correios. As drogas chegaram a todos os municípios, inclusive, na zona rural dos mesmos, com elas, a violência de todo tipo.

Outro dia escrevi um texto onde argumentei que esta – a segurança pública –, era uma questão para o governador chamar para si a responsabilidade.

Não há como combatê-la sem a união dos poderes do estado, sem que a polícia, ministério público, judiciário, legislativo, prefeitos municipais e demais autoridades, trabalhem em conjunto, de forma ordenada e seguindo um planejamento estratégico.

Estamos diante de uma epidemia de violência, com uma clara tendência de aumentar cada vez mais.

Antigamente nos envergonhava o fato do Maranhão exportar trabalhadores para outros estados, por falta de trabalho por aqui. De uns tempos para cá, além de trabalhadores o estado passou a exportar bandidos para os estados vizinhos. Acontecem um crime no Piauí, Tocantins ou Pará e lá vem a notícia de que o delito foi praticado por bandidos do nosso estado.

Diante deste quadro só o governador possui autoridade para conduzir este processo, chamar os poderes, as autoridades e a sociedade em geral para um esforço comum de combate a violência.

Precisamos de atitudes das autoridades.

Não faz sentido que, diante de tanta violência, o judiciário – dentro da lei, mas sem controle rigoroso – solte centenas de presos, quando já tornou-se praxe que uma parcela significativa não retornarão, e que, soltos irão a delinqüir até serem presos novamente. Sentido também não há para que as rodovias no estado, portos, sejam tão desprotegidos, permitido o ingresso de armas e drogas.

Assim são tantas outras, como é o caso sério e grave de que agentes da lei, policiais ou delegados fazerem “vistas grossas” ao tráfico nos municípios, isso quando não estão dando cobertura ou traficando eles próprios, Denúncias assim, ouve-se falar todos os dias sem que haja um posicionamento mais efetivo das corregedorias.
Mas tudo isso, começa com o governador chamando para si a responsabilidade.

Outro setor que passa a sensação de que não houve mudança e que, até mesmo, houve um retrocesso, é o setor da saúde pública.

Por onde passo escuto dizer que não há médicos, que não há medicamentos, que não há insumos básicos para o funcionamento das unidades de saúde construídas e sob a responsabilidade do governo estadual.

Prefeitos, amigos, cidadãos comuns, com quem tenho falado, revelam sentirem uma piora nos serviços em relação ao ofertado no governo anterior.

Talvez esta sensação de piora se deva ao corte linear de recursos para o setor anunciado pelo governo no começo do mandato, talvez ao aumento da procura pelos serviços em decorrência da crise, talvez pelo fato dos municípios terem passado a atuar mais na atenção básica, talvez pela redução dos recursos feita pelo Ministério da Saúde, talvez pela própria descontinuidade na gestão do sistema, talvez a soma de todos estes fatores.

O setor da saúde é como um trem que não admite parar para substituir o maquinista, a troca tem que ser feita com ele em movimento. Daí, qualquer alteração na rotina ser sentida na ponta: nos pacientes, nas suas famílias.
Uma saída para melhorar e fazer avançar a saúde pública seria o governo estadual “brigar” com o governo federal para este repasse ao Maranhão, ao menos, a média da per capita de recursos. O nosso estado recebe menos da metade do que deveria receber. Mas este é um assunto para um texto específico.

Problemas como os narrados acima, também existem noutras pastas – que ainda não “se acharam” a ponto de não oferecerem as respostas esperadas pela população.
É normal que problemas ocorram.

O governo não tem um ano, trabalha no combate de vícios que se consolidaram durante décadas e o país se encontra enfrentando uma crise sem precedentes.

O importante é não ceder as velhas práticas e buscar a solução dos problemas sem perder de vista o interesse da sociedade.

Abdon Marinho é advogado.

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