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Espelhos e mudança

Por Abdon Marinho

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Ainda repercute nos meios políticos e sociais a mídia divulgada através de propaganda partidária e inserções do partido do governo. Não é para menos, em uma, o partido cria um verdadeiro clima de terror na eventualidade de não continuar no comando do país, trata-se de comercial muito forte que, no meu sentir, fere a própria legislação partidária que estabelece os limites desta propaganda. Em um outro, tenta vender a ideia de é o partido que em seus governos a corrupção é combatida sem trégua.

Em ambos, prega contra todos que não seguem sua cartilha e cria uma inovação linguística: A mudança estática. É verdade, embora pareça esquisito, falam que a mudança real é permanecer como está, sem se mover, nem para a frente nem para trás ou para os lados.
O desafio deste texto é fazer com que reflitamos sobre o que está dito.
Vamos ao comercial dos espelhos (aquele em que os atores aparecem em situações antagônicas de sucesso e fracasso, de fome e bonança, de emprego e desemprego). Neste comercial, o partido renega totalmente o passado do país. Antes dele, eram as trevas (se me permitem pegar emprestado o que está dito no livro do Gênesis). Foram eles, partido e membros, sim os criadores do país. Tudo que temos se deve a esses onze anos em que estão no comando. A pretensão chegaria a ser ridícula se não fosse tão séria.

Entretanto, como tudo comporta um mas, um porém, alto lá, companheiro: Qual passado renegas mesmo? O período militar? Beleza, esse é lugar comum. Quase todo mundo renega, inclusive cometendo algumas injustiças. O passado que começa com a chamada Nova República? Entendo. O partido se colocou contra e eleição de Tancredo Neves, mas – lá vem o “mas” de novo –, quem governou o país naqueles primeiros cinco anos, foi o hoje aliado do atual governo, o irmão de alma do seu líder máximo, o senador José Sarney. Este aliado de primeira hora do governo, do atual atual partido mandatário, foi o comandante-em-chefe da maior inflação que se tem notícia na história do país, só para lembrar, no último mês chegou a 89% (isso mesmo).
Suponhamos que ele renegue o governo seguinte. Mas o governo seguinte é também de outro aliado de primeira hora, o senador Collor de Mello, aquele que confiscou a poupança da população brasileira, não controlou a inflação, cometeu toda sorte de desatino que culminou com a sua cassação pelo Congresso Nacional.

Não, o comercial não tem como referência esses governos de seus atuais aliados. Afinal que passado é esse renegado? O passado formado pelas oligarquias estaduais? Não é possível. Os atuais donos do poder são sócios e aliados de todas elas: Os Sarney, os Calheiros, os Collor, os Barbalho, os Jucá e mais todos que aparecem na intenção de lhes render homenagens e afagar-lhes o ego.

Na verdade, o passado que fazem questão de renegar é apenas os oito anos do governo FHC, que entre outros méritos tem um inquestionável, debelar a inflação, não ter confiscado a populança de ninguém, ter iniciado diversos programas de transferência de renda e assistenciais (que o partido criticava e combatia de forma açodada, chamando de esmolas para povo, assistencialismo, etc), a estabilidade da moeda com o Plano Real (outra medida que o partido renegou na época e que não é capaz de reconhecer que foi a partir do plano real que o Brasil entrou nos eixos, começou a crescer e possibilitou os avanços que assistimos naquele período e nos subsequentes). Observando que o real foi criado no governo Itamar, mas que o ministro da fazenda responsável era o FHC.

Não parece estranho que o partido renegue somente esse período tão decisivo para história do país?

Ao criar estados mentais contra a volta ao passado, o partido e o governo, por extensão, não repudiam os governos que legou a maior inflação já experimentada por nossa sociedade, que corroía os salários e levava a sociedade a miséria ou aquele outro que confiscou as economias dos poupadores e foi afastado por corrupção, mas justamente aquele que garantiu ao país um mínimo de estabilidade e semeou o embrião das políticas sociais que o atual governo não só usa quanto abusa das mesmas. Trata-se de uma injustiça covarde que chega as raias da canalhice.

Vamos em frente. Como vimos, o partido do governo que aterroriza a população com uma suposta volta ao passado que não deixa clara qual é. Mas vai além, prega uma suposta mudança que não saia do lugar ao dizer não deve apostar no novo, saltar no escuro (acho que a expressão é essa). Vamos voltar um pouquinho, quer dizer que embora aliados aos políticos mais retrógrados, que simbolizam tudo que há de mais triste no nosso passado, repudiando apenas o governo dos tucanos diz também que não se pode apostar no futuro, no novo? (o tal salto no escuro – será racista essa expressão?).

Aqui cabe uma outra explicação. Quando a grande maioria do povo brasileiro decidiu, em 2002, colocar os atuais inquilinos no comando do país, o salto foi muito mais na incerteza que agora. Será que o povo escolheu certo? Muitos brasileiros acham que sim. O salto foi tão incerto que o partido teve que lançar oficialmente um documento sustentando que não mudaria as bases da política econômica, a garantir a rigidez dos contratos, entre diversos outros compromissos. E por que fizeram isso? Por que eram contra, no discurso, a essas políticas, tinham sido contra o plano real, falavam em moratória, em rupturas, etc. Entretanto, agora, voltam a renegar o governo que, oficialmente, reconheceram e se comprometeram com suas bases. Apostam na ignorância do povo.

Se o passado o comercial identifica como o PSDB, o futuro, o salto incerto, é o PSB.

Vejam que o candidato socialista apresenta credenciais, de longe, melhores que aquelas apresentada pelo candidato do partido que o critica, em 2002, diferente deste que já foi deputado, secretário, ministro e governador por dois mandatos, aquele só tinha experiência de presidente de sindicato e um mandato de deputado federal muito mal exercido. O salto no escuro aponta para um candidato que possui uma boa avaliação como governador, atestada pela população de seu Estado e por diversos organismos.

A mesma coisa podemos dizer do candidato que o partido apresenta, injustamente, como oriundo de um passado negativo, basta analisar seus mandatos tanto os legislativos quanto a frente do seu Estado, também por dois períodos.

Na verdade quem se mostram incapacitados para dirigir o país são as lideranças apresentadas pelo partido que criou a mudança estática, tanto o do primeiro mandato quanto a atual mandatária, que apurado e tirado os nove foras verificamos que não sabem juntar léu com créu. E a sua mudança estática sinalizam a volta da inflação, o baixo crescimento econômico, as corrupção que todos os dias inundam os meios de comunicação e, que pelo sabemos, não deve corresponder a terça parte, sinaliza para o mesmo comando dos coronéis da política brasileira representada por suas oligarquias estaduais.

Não satisfeito com a falácia deste primeiro comercial, obra-prima do marketing que vende geladeira a esquimó, ainda que com o sacrifício da verdade, saíram-se com outro, dizendo que nunca se combateu tanto a corrupção, que nunca se investigou tudo, que não há engavetamento.
Aí, com pouco esforço você está diante de uma piada pronta. Quer dizer que um partido teve os expoentes maiores condenados por corrupção, que estão cumprindo pena, aparecem para dizer que são os maiores combatente deste mal que assola o país? Não é só piada, é cinismo também.

Na verdade, em matéria de combate a corrupção o país deve e muito é a polícia federal, que apesar do governo fazer o possível e o impossível para sucateá-la ainda consegue prestar um bom serviço de investigação, deve-se também ao Ministério Público e ao Judiciário, que apesar das inúmeras falhas apresentam algum resultado.

Exceto os marcianos que chegaram no planeta ontem, todo mundo sabe da campanha insana, do atentado institucional que o partido praticou e pratica contra o Supremo Tribunal Federal, que julgou e condenou o maior esquema de corrupção já orquestrado no país, e contra todo mundo que ousa denunciar as falcatruas desde e do governo anterior. Todo mundo é conhecedor das inúmeras concessões que fazem aos notórios corruptos em troca do poder.

Falar em combate a corrupção é uma apropriação, dentre tantas de um mérito que não pertence, nem nunca pertenceu ao partido, chega a ser um escárnio, uma vergonha.

Quando o partido vende o medo do passado, quando ousa falar em corrupção, tal como aquele comercial em que tenta fazer chantagem com o povo brasileiro, uma coisa é certa, olham para o espelho.

Abdon Marinho é advogado eleitoral.

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