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Conselho a Dino: “mate o galo no primeiro dia”

Por Abdon Marinho

Abdon Marinho.

Uma das principais promessa do candidato ao governo Flávio Dino, caso seja eleito, é o combate a corrupção. Neste intento até já disse que criará uma secretária voltada para o controle interno e transparência. Pessoalmente, entendo que a criação da secretaria é desnecessária. O controle interno pode, perfeitamente ser feito pela Controladoria-Geral do Estado, bastando para isso que lhe seja garantido uma maior autonomia e um quadro técnico nas diversas áreas composto por pessoas competentes e comprometidas.

A corrupção no Brasil e, principalmente, no Maranhão é endêmica. A acomodação de um mesmo grupo no poder por tanto tempo criou nichos intocáveis com as pessoas vivendo a corrupção como uma rotina normal de trabalho. As obras do estado, principalmente a construção de estradas virou um dos principais focos de corrupção, como ninguém fiscaliza suas etapas para verificar o tipo de material, de compactação, espessura das camadas, tipo de revestimento, dá margem a todo tipo de prejuízo ao erário. O resultado são obras se desmanchando com menos de um ano e/ou exigindo uma manutenção permanente, numa sangria sem fim dos recursos públicos. Outro dia peguei a MA 006 – o candidato promete fazer desta a rodovia de integração do Maranhão, saindo do Município de Alto Parnaíba, sul, até o litoral, Cururupu ou Apicum-Açu –, percorri o trecho entre Pinheiro e Pedro do Rosário que está asfaltado e de Pedro do Rosário a Zé Doca, ainda na terra. O primeiro trecho, o melhor, foi asfaltado “daquele jeito”, parece não se tratar de uma MA, curvas não foram tiradas, os aclives e declives permaneceram, na verdade, pelo que senti, só jogaram o asfalto na estrada vicinal existente, com pouco ou nenhum trabalho de melhoramento, parece uma estrada vicinal revestida com uma fina camada asfáltica que aqui e ali ameaça romper. O segundo trecho Pedro do Rosário a Zé Doca, como é um “retão”, apesar de ainda ser uma “estrada de chão”, até parece melhor. Os outros trechos que conheço, até Cururupu e Bacuri, embora tenham sido melhor construídos, padecem de defeitos enormes, como por exemplo as cabeças de pontes bem acima do leito da pista, dando conta que faltou um trabalho de base consistente. Em resumo, sendo esta a rodovia de integração do Maranhão, acredito que terá se ser totalmente feita e refeita. Como está, só serve mesmo como vicinal, para servir de integração não servirá.

As demais estradas do estado sofrem do mesmo mal. O mal das obras mal feitas.
Mas o assunto objeto deste texto é outro, é a promessa de combate a corrupção.
Bem sei que candidatos viajam muito, conhece muitos lugares, mas sei também que campanha é muita correria, visita-se muito mas conhece-se muito pouco, principalmente, as histórias e “causos” do povo. Contar-lhes-ei uma que ouvi lá pelo sertão onde nasci.

“Diz-se que um jovem muito formoso se enamorou de uma jovem igualmente formosa e, como de costume, foi a seu pai pedir a mão da moça em casamento. O velho com sua honestidade sertaneja tentou demover o jovem do seu intento. Disse-lhe: – Olhe, meu filho, não lhe recomendo casar como minha filha; ela é muito valente, puxou para mãe que tem cabelo na venta; tem dia que acorda com o cão nos “couros”, já veste o vestido com a frente para trás e nem o diabo segura. Não se meta neste tipo de enrascada.

O jovem que tudo ouviu com a atenção devotada de outros tempos respondeu: – Olhe, eu fico muito grato ao senhor por esses esclarecimentos, mas estou muito apaixonado por sua filha e quero me casar com ela.

O velho deu de ombros e assentiu com casamento que aconteceu dias depois, indo morar ,o jovem casal, numa povoação não tão próxima que permitisse ir de chinelos e nem tão distante que tivesse que levar malas.

Passaram se os dias e o velho esperando para saber do desastre do arranjo. Passou-se um mês, dois, no terceiro, resolveu visitar o casal. Chegando lá viu tudo normal, reinava a paz no lar, a filha amorosa com o marido era só “dengo”. No término da visita o velho chamou o genro e perguntou-lhe como tinha feito para amansar a “fera”. O genro respondeu: – ah, meu sogro, foi muito útil aquela conversa que tive com o senhor. Todos os dias ficava atento a acordar da minha mulher. Um dia vi que quando ela acordou colocou o vestido ao contrário, enquanto foi ao banheiro eu levantei, vesti a calça pelo avesso, peguei meu facão e comecei a quebrar umas coisas dentro de casa, corri para o terreiro matei logo dois porcos, duas galinhas e galo que cantava. A mulher ouvindo o barulho correu para fora para ver o que acontecia e já fui logo dizendo que falasse comigo, que eu estava pronto para o que viesse. Ela foi tratar de me acalmar e nunca mais a vi vestir o vestido ao contrário. Assim, nossa relação é só de amor e paz.

Meses depois o amoroso casal foi visitar os pais da esposa. Chegando lá encontraram o velho, todo “estropiado” uma perna quebrada, escoriações pelo corpo e um braço na tipóia. O genro vendo o sogro naquele estado, chamou-o para o lado e indagou: – meu sogro, o que lhe aconteceu? O sogro respondeu-lhe: – ah! Meu filho, tentei seguir seu exemplo e aconteceu isso, minha esposa deu-me uma surra, uma sova que quase me mata. O genro, então virou-se para ele e disse-lhe: – ah! Meu sogro, esqueci de lhe dizer, para esse tipo de coisa funcionar, tem que matar o galo no primeiro dia.”

Como disse inicialmente, a corrupção no Maranhão ganhou ares de normalidade. As propinas, desvios, cafezinhos, cervejinhas e demais formas de corrupções, acontecem diariamente sem que ninguém ache mais estranho. O anormal passou a ser a honestidade, o servidor, o político, não vender uma emenda de obra, não advogar por um pagamento, não levar nenhuma vantagem. Agora mesmo, quantas denúncias não saem diariamente nos meios de comunicação? Como sendo a coisa mais natural do mundo, noticiou-se que um deputado estadual mudou de lado nas eleições por que tentou intermediar um pagamento e um figurão passou passou para um contraparente, também deputado estadual, que levou uma polpuda quantia. O silêncio que se seguiu a tal denúncia foi muito mais preocupante que a própria denúncia. Não vimos um corajoso do Ministério Público Estadual dizer alguma coisa, os órgãos do governo negar ou dizer que iria apurar. Uma mísera nota não foi merecedora os pagadores de impostos.

Se o candidato, pretende, como promete, fazer cessar a corrupção no estado, precisa, como narrado neste causo do sertão, matar o galo no primeiro dia. Caso vença as eleições, antes mesmo da posse deve formar um secretariado constituído por pessoas reconhecidamente de conduta proba, sob os quais não pese nenhuma dúvida quando à honestidade e espírito público. Começar, pela composição do governo, a desmistificar a ideia de que os seus aliados não vêem a hora de chegar ao governo para fazerem negócios tortuosos e enricarem. Ter em relação a esses auxiliares o mesmo rigor de César em relação a sua mulher para quem, além de ser, tinha que parecer honesta. O órgão de controle e transparência, seja secretaria ou outro qualquer, tendo apenas a responsabilidade de atuar na defesa do interesse da sociedade, impermeável a qualquer ingerência política e com a autonomia para impedir que os maus costumes se repitam, controlando, desde os procedimentos licitatórios, fiscalização de execução até os pagamentos.

Um governo que desde o primeiro dia não seja tolerante nem conivente com desvios de conduta venha eles de onde vierem.

Ao povo do Maranhão não interessa trocar seis por meia-dúzia. Interessa sim, uma mudança completa de procedimentos que o faça acreditar em dias melhores e um futuro mais justo.

Abdon Marinho é advogado eleitoral.

One thought on “Conselho a Dino: “mate o galo no primeiro dia”

  1. Pago para ver:
    Olha Doutor Abdon, como formar um governo com pessoas probas como: Zé Reinaldo, Weverton Rocha, Waldir Maranhão, CleomarTema, Rubens Brito, Julião Amim, Marcio Jerry, com certeza esta troca não será nem seis por meia dúzia e sim uns ruins pela escória.

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