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Caríssimo BO

Por Abdon Marinho

Poucas vezes na história da humanidade se viu uma união tão grande das pessoas de bem em torno de uma eleição americana quanto foi visto na sua bo. Em todos países, as pessoas de bem entoaram o mantra, sim, nós podemos.

A sua eleição bo, não foi objeto de torcida apenas de seus partidários, dos seus patrícios, do seu povo. Há pouco mais de cinco anos, ela mobilizou bilhões de corações, pessoas comuns torcendo para ver um negro, um dos nossos, no cargo de comando mais elevado do mundo.

Jovens, mulheres e crianças vibraram com a sua eleição e encheram-se de esperança na possibilidade de termos um mundo melhor, mais justo, mais humano, mais voltado para os direitos e para as garantias dos cidadãos.
Não podia ser diferente bo, eras um dos nossos. Com ascendência africana, que cresceu por si, não era de família nobre, pelo contrário, experimentou as dificuldades da vida como qualquer do povo, não representava o poderio econômico, o conchavo belicista, as oligarquias racistas, etc. Era um de nós.

Lembro que fiquei emocionado com a forma como a juventude européia o recebeu antes da posse. Lembro da mobilização de bilhões de pessoas ao redor do mundo acompanhando sua posse naquele 20 de janeiro. Agora mesmo bo, na sua reeleição, ainda que em menor número, foi possível sentir a união e a torcida das pessoas de bem por ela. Acompanhamos, pelas redes sociais, pelos canais de TV’s, pelos jornais, não queríamos que o passado voltasse, principalmente os adoradores das guerras.
Hoje, faz quase um mês, que o jovem Snowden vaga na zona de trânsito do aeroporto de Moscou, virou a apátrida. É tido por traidor do seu país. Um jovem que arriscou tudo, afastou-se de tudo, namorada, família, amigos e até do seu solo, da tranqüilidade de sua vida, da sua cama quente, para amargar, sem qualquer conforto o frio moscovita, para denunciar aquilo que seria inimaginável que estivesse fazendo bo. Espionando as nações aliadas, seus cidadãos bem, lendo suas correspondências, bisbilhotando suas vidas privadas.

Veja bo, o jovem Snowden amarga o involuntário exílio por defender as coisas que você defendia há pouco menos de uma década, por denunciar aquilo que denunciavas antes de ser presidente, a violação das liberdades civis, o direito que cada cidadão em qualquer lugar do mundo deve ter, o direito a privacidade.

Veja bo, não faz tanto tempo assim e você denunciava praticamente as mesmas coisas que o jovem Snowden denuncia. Mas você fazia isso sem risco, sem temor, escudado no mandato de senador. Ele o fez colocando em risco a própria vida. O seu governo o caça e constrange o mundo a caça-lo como se ele fosse um bandido, um traidor. Quem está errado é o seu governo, bo. O receio de atos terroristas, sempre reais, não justifica que monte um big brother mundial e passe a monitorar a vida de todos. Há um limite ético a ser observado, a ser respeitado por todos, inclusive pelo seu governo.

O jovem Snowden que colocou sua vida em risco passou a ser vítima não apenas de seu governo, passou a ser vítima também de todos os governos covardes do mundo, inclusive do meu pais, que prefere o silêncio a se manifestar e conceder asilo a uma pessoa que denunciou um crime contra a liberdade de todos os cidadãos do mundo.

O jovem Snowden é também vítima de uma sociedade covarde que não ousa se manifestar a favor de um cidadão que abriu mão de tudo, até da própria vida, para denunciar abusos praticados contra essa sociedade que agora ignora a grandiosidade de seu ato.

Meu caro bo, o jovem Snowden está longe de ser um traidor, de merecer ser caçado, de ser perseguido por seu governo e pelos demais governos, que embora vitimas da espionagem se uniram ao criminoso e não à vitima.
Meu caro bo, a causa que moveu o jovem Snowden é causa que move as pessoas de bem, o respeito a liberdade, as garantias civis, direitos humanos. Causas que você e todas pessoas de bem defendia. Não vendeu segredos, não recebeu nada, expôs para sociedade os malfeitos que nos prometeu não fazer.

A perseguição a que submete o jovem Snowden, o torna indigno de ostentar o título de Nobel da paz, prêmio que aliás recebeu pelo que iria fazer e não pelo tinha feito. Melhor seria se o devolvesse por não corresponder as expectativas.

O herói das liberdades civis é hoje a pessoa a quem persegue de forma impiedosa e usando o maior poderio jamais empreendido contra um única pessoa. Uma pessoa que, aos olhos das pessoas de bem, fez o certo, o correto, o digno. Indigna é a perseguição que sofre.

Lamentável bo, quanta decepção.

Abdon Marinho é advogado eleitoral.

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